domingo, 11 de outubro de 2009

Globo X Record: o debate não acabou!


Após séria briga em horário nobre, tevês da família Marinho e do bispo Edir Macedo têm concessões renovadas pelo Governo Federal e Congresso sem qualquer debate público

Mais de um mês se passou desde a última contenda entre as duas maiores redes de televisão aberta do país, Globo e Record. A busca desenfreada pelo primeiro lugar na audiência resultou em uma enxurrada de acusações de ambas as partes, deixando o público perplexo diante da TV por vários dias.

A Globo partiu de um “fato” jornalístico, neste caso as investigações do Ministério Público de São Paulo sobre negócios ilícitos praticados pela Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), para destilar seu veneno contra a rival Record. Do outro lado, a emissora paulista, que se defendeu atacando a TV da família Marinho, empregando de forma agressiva seu “jornalismo” para revelar ao Brasil “a verdadeira face da Rede Globo de Televisão”, como seu apoio à ditadura militar e a parceria ilegal com a empresa norte-americana Time Life, também na mesma época.

De lá pra cá, a impressão é de que estamos vivendo uma espécie de “Guerra Fria” na TV, em que os ataques de lado-a-lado cessaram (embora não saibamos até quando), mas a corrida às armas em busca da liderança não.

O suposto fim da briga entre os Marinho e a IURD (na pessoa do bispo Edir Macedo) não deve, no entanto, evitar análises mais profundas a respeito desse lamentável episódio. Afinal, não estamos falando de duas empresas privadas que produzem sabonete, chocolate, ou qualquer outra coisa do gênero mercadoria; mas sim de duas empresas que utilizam uma concessão pública, ou seja, um canal de televisão, para difundir informação, cultura, educação e entretenimento para 190 milhões de brasileiros.


Não se pode negar que a lavação de roupa suja entre as duas rendeu boas verdades de ambos os lados do front, porém o que mais assusta é a postura inerte dos responsáveis pelo bom uso e funcionamento das concessões de rádio e TV: o Governo Federal e o Congresso Nacional.

Concessões renovadas sem avaliação do público


O poder concedente não só não fez nada sobre o caso, como também aprovou a renovação das outorgas da Rede Globo e da Rede Record – com validade vencida desde 2007 - como se nada tivesse acontecido. Como se a Constituição brasileira e as leis que regulam (se é que regulam!) as comunicações no país não tivessem sido jogadas no lixo. E tudo isso em público, no horário nobre, para quem quisesse ver.

E onde fica a sociedade em meio a tudo isso? No lugar de sempre, à margem de tudo, sem a menor possibilidade de debate para avaliar se vale a pena ou não conceder mais 15 anos de licença para que Globo e Record continuem veiculando suas programações (ou suas guerras de cunho privado).

Serviço público que sustenta monopólios privados

As duas emissoras valeram-se de suas posições de líderes de audiência nos lares brasileiros e de suas concessões públicas de TV - distribuídas em nome da sociedade pelo Governo Federal, Câmara dos Deputados e pelo Senado – não só para atacar e enfraquecer o adversário, mas principalmente para preservar seus inúmeros negócios privados, representados por seus conglomerados de mídia espalhados pelo país inteiro por meio de suas afiliadas.

Fazem parte desses impérios multimidiáticos, além de centenas de emissoras de TV, estações de rádio, jornais, revistas, editoras de livro, estúdios fonográficos, portais de Internet (a Record acabou de lançar o seu, o R7, no mesmo estilo do seu concorrente direto, o G1), entre outros negócios ligados à comunicação e a outros ramos da economia. Em outras palavras, as concessões de TV emprestadas à Record e à Globo sustentam os vultuosos ganhos privados de seus monopólios de mídia.

Conflito reflete falta de democracia na mídia

Longe de representar liberdade de imprensa ou de expressão, como alguns tendem a pensar, o embate entre Rede Globo e Rede Record apenas revela a barbárie que reina sobre a radiodifusão brasileira, um bem público, de todos. Comparo os mandatários das duas emissoras a um bando de vândalos, que danificam um bem público mesmo estando cientes da importância dele na vida dos cidadãos.

No final das contas, não há dúvida, a maior vítima da guerra protagonizada pelas duas emissoras é a sociedade que, embora não tenha visto uma gota sequer de sangue ser derramada diante da TV, presenciou um ato nefasto de violência simbólica contra si, um ato contra o direito à informação pública, livre e democrática. Ato este que tem tudo para se repetir nos próximos 15 anos (Globo até 2022, e Record até 2013).

E você, o que pensa sobre tudo isso? A Globo e a Record mereceram ter renovadas as concessões de transmissão de TV? Deixe seu comentário, sua participação é muito importante! Aqui você pode falar!

Se não mudamos nós, a mídia não muda!

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Até a próxima!

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