sábado, 14 de fevereiro de 2009

TV Digital no Espírito Santo (e no Brasil): Imprensa informa pela metade e esconde detalhes importantes

O assunto que será abordado neste espaço é a chegada da TV Digital ao Espírito Santo. Ou melhor, para parte da população dos municípios que compõem a região da Grande Vitória, já que o interior do estado ficará de fora por mais três ou quatro anos. Desde o último dia 09 de fevereiro, algumas emissoras locais de televisão sediadas na capital capixaba, Vitória, transmitem parte de sua programação em alta definição de imagem e som. Na esteira desse fato, porém, há muita propaganda enganosa, inclusive disfarçada de jornalismo para forjar um ambiente de verdade incontestável.

No período que antecedeu o início das transmissões, um farto material “informativo” sobre a TV Digital foi publicado em portais da internet, jornais e programas de televisão - todos ligados às emissoras locais que se digitalizaram, como a Rede Gazeta (afiliada da Globo) e a TV Vitória (afiliada da Record). Tocaram no assunto de maneira exaustiva, mas sem evidenciar pontos essenciais.

Esses veículos de imprensa não revelaram aos capixabas sequer metade da potencialidade agregada à TV Digital. Falam repetidas vezes que a nova tecnologia de transmissão oferecerá conteúdo de televisão no celular (portabilidade), que será possível assistir ao programa favorito no carro ou no ônibus (mobilidade), que terá imagem e som de altíssima qualidade, sem ruídos, chuviscos ou distorções etc. No entanto, esquecem, não sabem ou estão impedidos de dizer por razões particulares (leia-se empresariais) que as maiores vantagens da nova TV não se resumem às benfeitorias meramente técnicas.

No início, sem interatividade
Uma das mudanças verdadeiramente revolucionárias que surgem com a TV Digital e que vai atingir a forma de nos relacionarmos com a televisão é a interatividade, ou seja, a possibilidade de fazer ligações telefônicas, conversar, efetuar compras, conferir dados bancários, opinar sobre a programação e participar de enquetes, ou até mesmo acessar a Internet.

Isso significa convergência de mídias. É a TV e a Internet funcionando numa única plataforma, numa única mídia. As consequências dessas mudanças serão extremamente benéficas para a sociedade, derrubando as barreiras para uma efetiva inclusão digital no Brasil. Sobre tal assunto não foi dado o destaque merecido nos veículos de informação pertencentes às redes de comunicação que vão conduzir as primeiras transmissões de TV Digital.
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Entretanto, o software Ginga, dispositivo desenvolvido por duas universidades brasileiras e que vai permitir a interatividade na TV Digital, ainda não está disponível no mercado. Também não há previsão, nem mesmo por parte do Ministério das Comunicações, de quando a população poderá usufruir da interatividade na televisão.

Multiprogramação: emissoras não querem diversidade de conteúdo
Outra grande possibilidade com a TV Digital é a multiprogramação, isto é, mais de uma programação (até quatro diferentes) num só canal, o que traria diversidade de conteúdo para o cidadão. Entretanto, não existe, até o momento, qualquer indício de que tal recurso seja implantado pelas emissoras comerciais, que devem repetir o mesmo modelo de programação que chegam às nossas casas.

Em suma, a mesmice tem tudo para continuar, e em alta definição! Sobre esse tema, o espaço dedicado pela imprensa capixaba interessada na TV Digital foi microscópico, quase inexistente.

TV Digital não está preparada para democratizar a mídia
Tanto a interatividade quanto a multiprogramação não ficaram de fora da pauta à toa. A TV Digital se espalhou em todo o país como um mero produto à venda, e não como a oportunidade de mudarmos o cenário de concentração dos meios de comunicação, da baixa qualidade e da ausência de diversidade no conteúdo oferecido ao telespectador.

O discurso enaltecedor da alta definição que aparece de forma sedutora nas peças publicitárias e nas “reportagens” é a única jogada de marketing empregada pela mídia para persuadir a população a gastar numa tecnologia ainda pobre, porém muita cara.

TV aberta e gratuita, mas muito cara e fora da realidade brasileira
Não é necessário pressa alguma para adquirir o conversor digital (o set-top-box) e a antena em UHF, recursos necessários para receber o sinal digital de TV. Isso porque o sinal analógico – aquele que recebemos em casa atualmente através de ondas eletromagnéticas - ainda funcionará até o ano de 2016, data prevista para a extinção do modo analógico de transmissão. Esse é outro ponto que a mídia capixaba e brasileira esquece de informar, pois prefere forçar a população a correr e comprar uma TV desfalcada de suas principais potencialidades.

Ainda mais se levarmos em conta os preços "salgados" dos set-top-boxes, uma vez que a produção dos conversores não ganhou escala, o que significa preços bastante elevados, entre R$ 400,00 e R$ 900,00. Confira nas lojas ou nos panfletos espalhados por elas nas ruas para conferir também o valor altíssimo cobrado por uma TV de LCD ou de Plasma (algumas já com o conversor embutido) de 26 a 52 polegadas. Marcas famosas cobram a bagatela que varia de R$1.900 a R$ 7.000.

É desnecessário dizer que a grande maioria da população não dispõe de tais valores exorbitantes. Vale lembrar ainda que os aparelhos realmente preparados para oferecer imagem e som totalmente digitais são as TVs de LCD FULL HD, acima de 40 polegadas. Isso significa que os televisores mais antigos (aqueles de tubo) podem permitir mudanças mais brandas, como retirar chuviscos e “fantasmas” da imagem, mas não oferecer imagem e som com a nitidez prometida pela TV Digital.

Como podemos observar, tudo indica que este não é o momento ideal para sair comprando os equipamentos necessários para receber a TV Digital, pois ela chega bastante desfalcada, sem interatividade nem multiprogramação e, acima de tudo, muito cara.

Em oportunidade anterior, o Mídia Aberta publicou dois artigos especiais sobre a TV Digital. Neles, vocês podem encontrar mais detalhes a respeito da nova tecnologia:
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Até a próxima!

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Governo Federal anuncia 1ª Conferência Nacional da Comunicação

Encontro vai debater as principais demandas da sociedade em relação às comunicações. Políticas públicas e nova legislação estarão entre os temas

O Mídia Aberta inicia o ano de 2009 com a notícia mais aguardada por aqueles que estão engajados na luta pela democratização da comunicação no Brasil. Está marcada para os dias 1, 2 e 3 de dezembro a realização da 1ª Conferência Nacional de Comunicação Social. A importante decisão foi tomada no início de fevereiro pelo Governo Federal, juntamente à Comissão Pró-Conferência Nacional.

Na ocasião, foram marcadas as datas dos encontros a serem realizados nas cidades e nos estados. As conferencias municipais ou regionais devem acontecer até 20 de junho, e as estaduais de 30 de julho a 15 de setembro. Resta agora o Governo Federal publicar um decreto convocando a realização do evento e, em seguida, o Ministério das Comunicações criar um Grupo de Trabalho (GT) tripartite, ou seja, obrigatoriamente composto por representantes governamentais e do Congresso Nacional, de empresários da mídia e da sociedade civil organizada. O GT tem a função de organizar a Conferência, determinar os temas, entre outras funções.

No final de 2008, o governo aprovou dentro Lei Orçamentária Anual (LOA) um montante no valor de mais de R$ 8 milhões para a construção da conferência no ano em curso. Logo, os recursos já estão disponíveis. Na temática da futura conferência devem estar presentes a inclusão digital, as concessões de rádio e TV, a comunicação pública, a banda larga, as telecomunicações, a convergência tecnológica, o direito à comunicação, a digitalização da TV e do rádio, as mudanças no marco regulatório da radiodifusão, entre outras questões atuais.

Finalmente, após 20 anos de vigência da Constituição de 1988, a “Constituição Cidadã”, que reservou um capítulo específico para as comunicações, pode-se enxergar no horizonte um cenário de mudanças concretas para o sistema de comunicação brasileiro, tão concentrado e sob o controle privado de poucos grupos.

O fato de o Governo Federal enfim se sensibilizar com as demandas do setor já pode ser considerado como uma vitória para toda a sociedade, uma vez que o Estado brasileiro se mostrou afastado durante longos anos, sem qualquer ação regulamentadora efetiva, em detrimento do total domínio do mercado e do setor privado sobre as comunicações.
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A Conferência Nacional de Comunicação deve se constituir num espaço amplo e democrático de discussões e de formulação de políticas públicas visando a transformação do status quo mantido durante décadas na organização dos meios de comunicação. Estando isso bem claro, é indispensável que todos os segmentos da sociedade brasileira apóiem e participem desse importante momento, disseminando o assunto nos mais diversos espaços, como escolas, igrejas, associações de bairro, sindicatos, faculdades etc.

O blog Mídia Aberta publicou em junho do ano passado um artigo intitulado
Todos por uma Conferência Nacional de Comunicação ampla, democrática, participativa e plural, no qual abordou a importância do tema para o fortalecimento da democracia no Brasil e destacou toda a mobilização criada na sociedade em torno do assunto.

Saiba mais:

Movimento Pró-Conferência Nacional de Comunicação.

Até a próxima!