Você e sua família gostam do que vêem na televisão? Se sentem satisfeitos ao ligarem a TV e assistirem ao conteúdo que ela oferece? Desde o seu surgimento no Brasil, em 1950, a televisão nunca foi tão criticada e de forma tão organizada pela sociedade como vem sendo nos últimos anos. E motivos são o que não faltam!
Na “guerra” sem limites por audiência no Ibope e por lucros imediatos, as grandes redes de televisão (Globo, Record, SBT, Band e Rede TV!) oferecem uma programação de má qualidade e a cada dia pior ao público. Tornou-se uma triste rotina assistir a pessoas sendo humilhadas nas ruas em “pegadinhas”; a referências preconceituosas contra negros, homossexuais e mulheres; a cenas exageradas de sexo e violência em horários inadequados; a nudez entre jovens e mulheres nas novelas e filmes, entre outras cenas desnecessárias.
Essa é a realidade que, muitas vezes, os telespectadores encontram ao ligar a televisão hoje, e é a mesma realidade que fez nascer um movimento contra a baixaria e pela ética na TV e pelo respeito aos direitos humanos dos cidadãos.
Pela ética e contra a baixaria na TV
A Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados Federais criou, em 2002, a campanha Quem financia a baixaria é contra a cidadania, que reúne diversas entidades da sociedade civil de todo o país. A campanha, destinada a promover o respeito aos direitos humanos e à dignidade dos cidadãos nos programas de televisão, faz um acompanhamento constante da programação das emissoras de TV para indicar as atrações que desobedecem as leis que protegem os direitos humanos, da criança e do adolescente e a cidadania.
A campanha atua por meio de um Conselho de Acompanhamento de Programação, que analisa os programas de televisão e ainda recebe várias denúncias de toda a sociedade. O principal meio de divulgação é uma página na internet, Ética na TV, onde se encontram notícias sobre as atividades da campanha em todo o Brasil, e qualquer pessoa pode participar. Outro meio de contribuir é pelo telefone 0800.619.619 (ligação gratuita).
A cada quatro meses é divulgada uma lista onde aparecem as atrações de televisão que mais sofrem queixas dos telespectadores. Os resultados das denúncias recebidas são encaminhados às emissoras de TV e também aos anunciantes dos programas, de forma a pressioná-los para que não associem as marcas de seus produtos com as atrações mais lembradas pelo péssimo conteúdo.
O que é baixaria para a campanha
A campanha por ética e qualidade na TV brasileira considera “baixaria” programas que veiculem cenas de excessiva violência; que estimulem a discriminação contra negros, homossexuais, mulheres e deficientes; que ataquem ou humilhem a dignidade de pessoas ou grupos sociais; que tratem com preconceito a sexualidade de homens e mulheres; que valorizem a exploração sexual; que estimulem a atividade sexual precoce de crianças e adolescentes e que exponham a imagem deles de forma abusiva.
Ou seja, tudo que possa desrespeitar o que diz a Constituição brasileira e as leis que defendem os direitos humanos do cidadão é visto como baixaria. Por outro lado, os responsáveis pela programação da TV alegam que ela mostra apenas “o que o povo que ver”, o que é supostamente refletido nos famigerados e duvidosos índices de audiência. Mas o conteúdo sensacionalista e de baixo nível veiculado pela televisão diariamente e em qualquer horário é o que desejamos para a sociedade? Ou melhor: a programação a que a maioria da população tem acesso na TV, de fato, nasce da vontade dos brasileiros?
A grande audiência que muitas vezes é direcionada a atrações de cunho sensacionalista pode ser explicada pelo fato de que a televisão é, para grande parte da população, o único meio de informação e entretenimento a que tem acesso. Internet, teatro, cinema? Tudo isso é um privilégio de poucos! E ainda não podemos descartar nesse contexto a visível ausência de diversidade na grade de programação das emissoras de TV, especialmente as grandes redes nacionais.
Basta ligarmos a TV nos fins de semana, por exemplo! É, literalmente, uma sessão de tortura em domicílio! Tais afirmações jogam por terra argumentos falaciosos dos diretores de televisão, os quais afirmam que a melhor arma contra um conteúdo indesejado é o controle remoto. Mas de que adianta, se ele nos leva a andar em círculos!? Falta diversidade na TV aberta, e isso não é fato recente, uma vez que nos últimos anos a disputa pelos desejados pontos no Ibope tornou-se o maior objetivo dos canais de televisão e a principal conseqüência da padronização e da falta de qualidade do conteúdo exibido pelas emissoras.
Os campeões da baixaria na TV
Entre as atrações que foram alvo do maior número de reclamações e denúncias do público desde 2002, data em que foi criada a campanha contra a baixaria e pela ética na TV, estão as novelas da TV Globo (Pé na Jaca, Laços de Família, Senhora do Destino, Cobras e Lagartos, Celebridades e outras), Big Brother Brasil (da Globo), Programa do Ratinho (do SBT), Domingo Legal (do SBT), Domingão do Faustão (da Globo), Pânico na TV (da Rede TV!), além de programas comandados pelas apresentadoras Sônia Abrão e Márcia.
Duas listas com os programas mais lembrados pelos telespectadores por exibirem conteúdo de baixo nível, referentes aos anos de 2006 e 2007, foram publicadas pela campanha. Destaque para a Rede TV!, o que não é novidade alguma, e para a TV Globo que, tão lembrada por seu “padrão Globo de qualidade” num passado recente, anda surpreendendo no quesito baixaria, segundo a opinião da sociedade.
Mídia e sociedade: somos todos responsáveis
Para a campanha contra a baixaria e pela ética na TV, os anunciantes de produtos têm responsabilidade sobre a programação de péssima qualidade que elas apóiam ao investirem suas verbas de propaganda. Além disso, grande parte das emissoras de TV e seus produtores e apresentadores agem a altura de seu papel junto à sociedade (hoje, quase nulo) e não se sensibilizam com os apelos da população por mais respeito e qualidade na programação. Vide o conteúdo que ainda prevalece nas tevês comerciais.
Portanto, é indispensável a participação de todos nós, cidadãos brasileiros, para que tenhamos uma televisão diferente e inteligente. Um dos caminhos é denunciar os abusos e não dar audiência a programas que insistem em não oferecer educação, cultura, informação de qualidade e de interesse público e que não te respeitam como cidadão!
Considerando a influência que a televisão tem no cotidiano de todo brasileiro, seja para sua formação ou informação, é tarefa diária construirmos uma TV que atenda ao telespectador em suas necessidades; que valorize a cultura nacional; que respeite crianças e adolescentes; que transmita educação e prestação de serviços; que traga informação séria e crítica, sem espetáculo e tragédias, mas sim com qualidade e conteúdo; e que promova a dignidade, o respeito, a solidariedade e a cidadania entre as pessoas.
Em suma, uma TV que nos veja como cidadãos, e não como meros consumidores ou simples atalhos para os lucros astronômicos obtidos pelas grandes emissoras! Afinal, um canal de TV é uma concessão pública, oferecida pelo Governo Federal junto ao Congresso Nacional, com a condição de levar para a sociedade uma programação voltada para a cultura nacional e regional, a educação, a produção regional e independente, entre outras obrigações legais e constitucionais nunca cumpridas pelos detentores das emissoras comerciais de televisão. Mas este é um assunto para outro artigo, aguardem!
Até a próxima!
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