Dois temas gerais permearam a exposição dos palestrantes na primeira etapa da Conferência: “Princípios de uma Comunicação Democrática” e “As novas mídias e a construção da cidadania”.
Mas antes, é imprescindível dar uma notícia que todos os participantes da Conferência Regional aguardavam ansiosos. O Governo do Estado divulgou as datas em que será realizada a Conferência Estadual de Comunicação: dias 6 e 7 de novembro. Com isso, o Espírito Santo será representado por 26 delegados na etapa nacional, em Brasília.
Abrindo o primeiro tema, Renato Rovai, editor da Revista Fórum, fez um panorama da comunicação no Brasil e no resto do mundo. Ele colocou a criação da Internet como um marco para as comunicações em âmbito mundial. Na opinião dele, a web foi decisiva para que uma nova correlação de forças se estabelecesse na sociedade em torno da comunicação.
Assim definiu o editor da Revista Fórum ao falar sobre a distribuição desigual e concentrada de verbas públicas entre os veículos de comunicação. Um exemplo desse desequilíbrio, conforme Rovai, é o caso da TV Globo, que abocanha quase metade de toda a verba publicitária para a mídia.
“Banda Larga para Todos”
Essa demanda de milhões de brasileiros, segundo Renato Rovai, deve tornar-se a grande bandeira de luta da Conferência Nacional de Comunicação. Para ele, se todo cidadão tiver acesso à internet banda larga e gratuita, o Brasil dará um grande salto na democratização da comunicação. “Por que não Banda Larga para todos? Isso não é algo impossível!”, provocou. E Rovai não exagerou em sua fala, pois o Governo Federal possui estrutura para um projeto desse porte, além de um grande volume de recursos, a exemplo dos mais de R$ 6 bilhões existentes no Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (FUST).
Jonas Valente, membro de uma das entidades mais atuantes pelo direito à comunicação, o Coletivo Intervozes, e integrante da Comissão Organizadora da Conferência Nacional de Comunicação, deu continuidade ao evento.
Valente expôs aos participantes um breve histórico de intensos lobbies dos empresários de radiodifusão e telecomunicações junto ao Estado brasileiro, sempre com o propósito de controlar as políticas públicas para ambos os setores. Foi o que aconteceu na criação do Código Brasileiro de Telecomunicações (início dos anos 60), na aprovação da emenda constitucional que abriu as empresas de comunicação ao capital estrangeiro e na definição do padrão nipo-brasileiro de TV Digital, entre outros vários momentos. E é nesse cenário, segundo ele, que se ergue a Conferência de Comunicação.
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Jonas relatou que o abandono de grande parte dos empresários da mídia – só restaram duas entidades empresariais na Comissão Organizadora – demonstra claramente a falta de interesse deles pelo diálogo. “O setor empresarial da comunicação não suporta qualquer luz de democracia sobre o setor”, enfatizou.
“A ConfeCom é responsabilidade de todos”
O membro do Intervozes fez um chamado à mobilização e à organização, que devem ser ampliadas ainda mais. “A Conferência Nacional de Comunicação, hoje, é uma responsabilidade de todos. Ela deixou de ser uma coisa apenas institucionalizada”, enfatizou.
E aos que veem como positiva a saída do setor empresarial das definições em torno da Conferência, Jonas Valente alertou para o fato de que não se pode ignorar os empresários no processo de construção da ConfeCom, porque no pós-Conferência, caso as propostas apresentadas se convertam em políticas públicas, o embate não será fácil para implementá-las.
Nunca é demais lembrar que a Conferência Nacional de Comunicação, a primeira na história do Brasil, acontece nos dias 1, 2 e 3 de dezembro, em Brasília, e que seu Regimento Interno, motivo de longos e árduos embates entre empresariado e sociedade civil organizada, finalmente foi aprovado.
O mapa da mídia no Espírito Santo
A professora e secretária de Comunicação Social da Prefeitura de Vitória Ruth Reis revelou a situação das comunicações em território capixaba. Sua fonte de pesquisa foi o portal Donos da Mídia, um vasto banco de dados que dispõe todas as informações a respeito do cenário da comunicação no país.
Entre os dados que mais chamam a atenção é do monopólio sobre as emissoras de rádio e televisão e os jornais. O cenário nacional se repete por aqui. Os grupos Gazeta e Tribuna concentram com folga a propriedade daqueles três veículos de comunicação: Gazeta (11 veículos), Tribuna (5) e Buaiz – Rede Vitória (3).
Gazeta e Tribuna dominam também a circulação da mídia impressa, mais precisamente de jornais, que são três: dois da Rede Gazeta (A Gazeta e Notícia Agora) e um da Rede Tribuna (a Tribuna). Ruth Reis observou que há um acelerado crescimento dos jornais de perfil mais popular, como A Tribuna (que é líder absoluta em vendas e circulação) e o Notícia Agora.
A “pequena” imprensa, representada pelos veículos de menor alcance, se concentra na capital, Vitória, e é formada principalmente por jornais e revistas. E quando o assunto é telefonia celular, um dos ícones da convergência tecnológica, o Espírito Santo está acima da média nacional quanto ao número de aparelhos por habitante (0,91).
Formatos alternativos para as redes
A discussão em torno de usos alternativos para a Internet permeou a intervenção de Pedro Markun, editor do Jornal de Debates, que abordou o segundo tema da Conferência Regional. Na opinião dele, cabe a nós pensarmos alternativas quanto à melhor utilização da grande rede. “Temos que refletir sobre formas mais arrojadas e competentes de utilizar o espaço digital”, disse Markun.
Ao dizer que, com a Internet, “somos Robertos Marinhos de nós mesmos”, Pedro Markun alertou para a necessidade de sabermos empregar as inúmeras potencialidades da grande rede com mais consciência, responsabilidade, criatividade e menos infantilidade.
Markun frisou ainda do poder que a internet tem de tirar do anonimato e dar visibilidade a indivíduos ou a setores da sociedade antes desconhecidos pela maioria da população. Classificou tal potencialidade como algo revolucionário.
Durante as intervenções do público, alguns temas geraram maiores debates, como a importância de uma internet banda larga gratuita para todos, as formas alternativas de utilização da internet, a implantação de políticas democráticas de financiamento público dos meios de comunicação e a polêmica do fim do diploma para o exercício do jornalismo.
Muito mais que um debate de ideias entre iniciados em comunicação, a Conferência Regional Livre de Comunicação colocou de vez o Espírito Santo no processo de mobilização e construção da grande etapa nacional da conferência. Daqui em diante, a tendência é que o debate se expanda ainda mais, e não apenas na Grande Vitória, mas também nas cidades do interior capixaba.
É como foi dito na abertura do evento: as conferências livres devem se estender aos bairros, às escolas, às faculdades, às igrejas, enfim, aos mais variados espaços coletivos da sociedade. Porque a comunicação é um direito de todos e pertence a todos, não pode ter donos.
Um comentário:
lente matéria, Vilson! Agora, vamos às preparatórias, já que o governo estadual convocou a Confecom Estadual.
Claudio Vereza
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