Na semana passada, os "heróis" do Big Brother Brasil 10 protagonizaram cenas lamentáveis, de baixaria gratuita, em pleno horário nobre na maior emissora de televisão do país, a Rede Globo.
Duas participantes - cujos nomes eu desconheço – discutiram entre si por um longo tempo. Palavrões, xingamentos, enfim, tudo o que se possa imaginar em matéria de injúrias, calúnias e difamações foram ao ar naquele momento.
Mas nada por acaso! Aquelas cenas do reality show (e nem é tão reality assim quanto parece) não invadiram a casa do telespectador à toa. Elas foram cuidadosamente selecionadas para compor o capítulo do programa daquele dia. E não deu outra. Os manipuladores do programa escolheram a cena que mais "marcou", a que mais lhes chamou a atenção ao longo de todo um dia acontecimentos na casa e a jogaram para milhões apreciarem o "barraco".
Em outras palavras, um grupo seleto e sem rosto, distante dos holofotes e totalmente desconhecido do grande público foi o responsável por decidir e dispor para milhões de telespectadores um conteúdo paupérrimo, de níveis baixíssimos e impróprio para pessoas de qualquer idade. E qual foi o papel que nos sobrou? O de apenas engolir de goela abaixo aquele entulho.
Qual a moral dessa história? Simples: a grande mídia privada, detentora das CONCESSÕES PÚBLICAS das maiores redes de rádio e televisão do país, não admite, berra, esperneia, cria falsas polêmicas e invoca todas as santidades da liberdade de expressão e de imprensa para afastar qualquer brisa que sopre em direção à possiblidade de um controle social sobre os meios de comunicação.
No entanto, o discurso pela liberdade ampla e irrestrita de escolha e de expressão entoado por essa mesma mídia (só se for para seus donos), se esvanece diante do que relatei nos parágrafos anteriores.
Se não há controle social - quero dizer da sociedade, e não estatal – há sim um outro tipo de controle, o privado, reservado a poucos privilegiados, que acreditam piamente ter a prerrogativa exclusiva de produzir e escolher o que vai ou não alcançar o imaginário de milhões de brasileiros, seja pelo rádio, pela TV ou por meios impressos de informação.
E mais: tudo isso reforçado pela força imensurável da publicidade, que investe pesado em programas do nível do reality show "global", revelando-se fator determinante na qualidade e no tipo de conteúdo produzido e veiculado pela mídia.
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O caso do MST
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E o que dizer então dos mais recentes bombardeios desferidos contra o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST)? O que foi dito no caso do Big Brother também é válido para os factóides montados pela grande imprensa - com o único intuito de satanizar o MST - e que de tão panfletários (desprovidos do mínimo de objetividade jornalística) beiram à mais barata ficção.
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Desde a pauta (roteiro distribuído ao repórter e sobre o qual ele vai se debruçar para produzir a matéria) até a edição final (fase de seleção e de escolha do melhor texto, das falas das fontes entrevistadas e da imagens mais hipnotizantes que irão ao ar), existe um propósito para a notícia. E tal propósito é determinado pelos editores com bastante antecedência, ou seja, ele precede a divulgação da reportagem.
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Em outras palavras: o rótulo de "invasores de terras" e de "destruidores de pés de laranja" imputados ao MST não é um retrato nu e cru da realidade que supostamente aparece diante das câmeras. Assim como todo tipo de narrativa jornalística, é resultado de todo um processo de escolha do foco (pauta) e de seleção (edição) dos melhores textos, falas e imagens colhidas em campo pelo repórter e que chegam ao conhecimento da população.
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Até mesmo as caras e bocas do casal William Bonner e Fátima Bernardes antes ou ao final de cada reportagem é algo pré-determinado, como atores em cena. Como se vê, poucos ainda detêm o poder de manipular a "realidade" vivida por muitos.
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Possibilidades de controle social
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Na primeira Conferência Nacional de Comunicação, realizada em dezembro de 2009, a proposta de controle social foi debatida e aprovada na forma de um Conselho Nacional de Comunicação, bem como dos conselhos estaduais, distrital e municipais, que funcionem com espaços de formulação, deliberação e monitoramento de políticas de comunicações no país e que sejam abertos à participação de todos os segmentos da sociedade; e ainda de um Observatório Nacional de Mídia e Direitos Humanos, para fiscalizar e monitorar eventuais veiculações que desrespeitem os direitos do cidadão.
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Esta última proposta andou provocando dores de cabeça nos barões da mídia comercial no início deste ano (lembram do Programa Nacional de Direitos Humanos?), os quais, como falei antes, não admitem ser impedidos de propagar baixarias, como as do Big Brother, em horários de grande audiência; e, em lugar disso, cultivar uma cultura de respeito à diversidade e à pluralidade racial, étnica, sexual e de gênero existente em nosso país. Tudo conforme a Constituição Federal.
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Enquanto Governo (Estado brasileiro) e cidadãos (você e eu) permanecem em estado de paralisia, anestesiados por uma passividade crônica diante dos desmandos dos conglomerados de comunicação, manipuladores pagos pelas grandes redes de TV e seus patrocinadores continuarão a decidir, em nome de milhões de telespectadores, por cenas degradantes como o festival de xingamentos e palavrões exibidos no BBB semana passada e os ataques covardes contra movimentos sociais legítimos e democráticos.
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Ou o controle social ou a barbárie da manipulação privada! Se queremos dar um passo decisivo rumo à democratização da mídia no Brasil, essa é a questão que se coloca para todos nós. Sociedade organizada e Estado devem se aproximar e trabalhar juntos, em completa sintonia, na criação de uma cultura de participação social – digo, de participação da dona Maria, do seu José, de crianças, jovens, adultos e idosos – no dia-a-dia dos meios de comunicação. E as novas mídias digitais, nunca é demais lembrar, revelam-se ferramentas indispensáveis e fundamentais para a conquista desse difícil, porém amplamente possível, objetivo.
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Se não mudamos nós, a mídia não muda!
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Até a próxima!
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